A internet se tornou um excelente meio social, de
forma que hoje em dia cada vez mais pessoas conhecem outras pessoas na rede.
Tudo acontece de forma bem democrática nesse contato virtual. Além das já
conhecidas redes sociais existem também as famosas salas de bate papo, estas
divididas por temas.
Há realmente de tudo: idades, Estados, países,
gostos musicais, gostos literários e claro que não é possível esquecer dos
gostos de sexo. A internet se tornou tão presente que o sexo virtual não é nem
mais considerado um fetiche ou alguma fantasia e tem uma categoria sua,
completamente isenta das outras.
Em um desses dias em que mesmo tendo o que se
fazer acabamos por querer falar com alguém diferente, conhecer alguém novo
acabei acessando uma sala de bate papo para supostos amantes da literatura.
Logo, acabei iniciando um papo com uma moça cuja auto
alcunha de Jane Austen chamara-me a atenção, apesar de eu não ser um leitor das
obras da autora original. Enfim, passadas as apresentações iniciais que nunca
mudam como “Oi, tudo bem? De que Estado você é?” finalmente começamos a
realmente a falar sobre literatura.
— Ah... eu leio um pouco de tudo. Adoro romances,
de fantasia fantástica, passando por ficção científica até uma bela e linda
história de amor. — Me dissera inferindo bastante versatilidade quanto ao que
eu estava pensando sobre ela.
— Muito legal, eu também gosto de ler um pouco de
tudo, cada tema e gênero têm suas particularidades mas ambos podem transmitir uma
ótima mensagem de forma eficiente e igualitária. — Respondi tentando ser
condizente com a situação.
Quando perguntada sobre os títulos que mais
gostou ela respondeu:
— Dos clássicos, gosto muito dos livros da
Austen, como pode imaginar pelo meu nick rsrs. Também gosto muito de fantasia
como Harry Potter, Senhor dos Anéis, Crônicas do Gelo e Fogo. E tenho lido
alguns autores novos que aparecem por aí tipo o Green.
Não sei dizer o que senti quando não vi nem
sequer um título nacional em sua breve lista de queridos livros. Minha
curiosidade não se aguentou e acabou questionando sobre tal ausência da
literatura canarinha.
— Ah! Os autores nacionais são muito chatos, tão
cheios de regras, falam tudo de maneira tão complexa e formal. As histórias são
muito bobas e inocentes, já não gostava delas desde a época da escola. —
Respondeu ela dessa forma direta e incisiva.
Fui tomado por uma outra sensação desagradável.
Como é possível alguém não gostar de nada que venha de onde ela mesma vem? Me peguei
pensando antes de continuar falando com ela, deixando apenas uma letra solta na
barra de mensagens para que ela pensasse que estou escrevendo ainda e não a
ignorando.
Concordo em partes que alguns autores nacionais
são bem complexos e formais, mas a literatura nacional não morreu no início do
século XX, muito pelo contrário foi exatamente nessa época que todo esse
formalismo foi quebrado com nomes como Guimarães Rosa, Lima Barreto e a
senhorita Lispector, que frequentemente tem suas frases compartilhadas em “tirinhas”
pelas mesmas pessoas que falam mal da literatura nacional.
Como já pode imaginar se eu falasse isso,
provavelmente ela não me responderia e eu estava bem curioso para saber a cor
de seus olhos, se é que me entendem. Logo, acabei mudando de estratégia e
pensei em saber mais sobre ela e não exatamente sobre o que ela gosta.
Em uma manobra evasiva quanto ao que tinha acabado de me responder eu mudei o assunto para o que ela faz da vida, se estuda, trabalha
ou também se não faz nada. (Haja tempo para Tolkien e Martin).
Ela respondeu:
— Eu sou escritora.
- Willian Carvaho.
- Willian Carvaho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário