Juquinha tinha acabado de completar os seus dez
anos de idade há pouco mais de uma semana e sua curiosidade sobre tudo já
alcançava os níveis da de um adolescente refém dos desejos do mundo. Perguntava sobre tudo, sobre o que via na
televisão, sobre o que ouvia por aí, queria saber sobre o passado, como as
coisas haviam chegado a ser como são e também o que podem vir a ser no futuro.
Quando jogando vídeo game na casa de seu melhor
amigo, Renan, cuja mãe é uma professora de história, foi acometido pela sensação
das infinitas possibilidades que aguardavam no futuro. A mãe de seu amigo
sempre preparava um ótimo lanche para eles no fim da tarde, era a única coisa
que poderia fazer para tirar os dois da frente daquele jogo.
Juquinha jamais esqueceria daquela sensação, um
mundo inteiro bem na sua frente, sem fronteiras. Sempre se concentra bastante
quando a mãe de Renan começa a contar as mais aventuradas e divertidas
histórias. Dessa vez havia sido a de um jovem rapaz de apenas 14 anos que se tornou
imperador, Pedro II, havia gravado bem o nome. Segundo o que contara a mãe de
seu amigo, a maioridade do jovem rapaz fora antecipada na tentativa de combater
de forma mais rápida e eficaz uma crise que tomava conta do Império.
Juquinha ficou recontando a história em sua
cabeça em todo o caminho de volta para casa. Quando entrou na sala não esperou
muito e já foi logo de encontro ao seu pai — Um senhor por volta dos seus
cinquenta anos, já cansado do marasmo diário: levantar, tomar banho, contar o
dinheiro da passagem, trabalhar, voltar para casa e recomeçar tudo de novo no
dia seguinte.
— Pai, a mãe do Renan, falou que Dom Pedro II
virou imperador com 14 anos, então quer dizer que com 14 anos eu posso ser o
que eu quiser?
— Você quer ser imperador Juca? — Perguntara o
pai enquanto passava os canais da televisão aleatoriamente, era como se não
mudasse o canal, a programação era a mesma.
— Claro que não, né pai! Eu sei que não existem
mais imperadores hoje em dia mas eu posso ser outra coisa, alguém muito
importante, certo? — Perguntara com o que restava-lhe de inocência.
Noticiário vai e vem e nada muda, o pai de
Juquinha arfando desliga a televisão e responde ao filho:
— Aqui meu filho, com 14 anos você pode fazer o
que quiser.
- Willian Carvalho
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