Brasílio vestia cores, embalava ritmos, encenava suas crenças diante do fogo tendo a lua como espectadora. Sua alegria demasiava a inocência, estampada no corpo nu. Pobre Brasílio, não sabia que tal inocência custaria-lhe o pensar, a liberdade e tudo aquilo que achava que deveria crer.
Certo dia um nobre homem vindo de terras distantes, além do horizonte, vencendo o medo das criaturas habitantes de águas tempestuosas, veio ao encontro de Brasílio. Surpresa para ambos os lados que incompreendiam um ao outro.
De um lado toda a riqueza e classe lisboeta pesando em tecidos sobre o corpo, e de outro, as cores de Brasílio. A diferença foi justamente a inocência de Brasílio, que encantado com os objetos reluzentes do nobre homem e seus companheiros, ofereceu tudo, além até do que esperava.
Quando menos se imaginava, Brasílio já havia trocado mais do que bens materiais que viriam enriquecer ainda mais o nobre homem. Havia perdido cegamente sua liberdade de crença, vestimenta e consequentemente aquela alegria que iluminava todas as noites.
Brasílio foi manipulado, enganado, caçado, aprisionado, chicoteado. Durante o tempo passado preso e submisso, Brasílio fez novos companheiros, também vindos de locais distantes. Um dos companheiros, que compartilhava a dor ao lado de Brasílio, tinha a pele escura e contava de sua terra, onde suas tradições também continham riqueza em expressões corporais como as da terra de Brasílio.
Junto a todos os outros companheiros, Brasílio ouviu com atenção todas as histórias e mudou a si mesmo em imagem e som. Colhendo um pouco de cada uma delas, vindas dos mais variados locais. Infelizmente, essa mistura ocasionou ainda mais tormento, pois os anjos do bem que o nobre homem acreditava, julgavam toda crença diferente da deles como inimiga e passível de contenção e proibição.
A fé custou muito sangue a Brasílio. A fé do nobre homem tirou muito sangue de Brasílio. Enquanto questionava o porquê de não poder acreditar no que quisesse, o nobre homem e sua crença compartilhada por tantos em todo o mundo, afirmava que aquilo tudo era maligno.
Muito tempo se passou, e Brasílio junto a muitos outros lutou, e enfrentou fortemente o nobre homem e suas tropas. Chegou o tempo em que essa opressão terminou, e a tão desejada liberdade fora alcançada, ainda que sua prática necessitasse de mais tempo para ser realidade.
Hoje Brasílio, veste muitas cores, como fazia antes. Entretanto, além das cores originais de sua própria terra, Brasílio acrescentou também todas as outras cores e sons provenientes das histórias sobre as terras de seus companheiros de dor e medo.
Infelizmente Brasílio possui traumas dos tempos passados, tempos de pavor, agonia e submissão. O impacto causado à alma de Brasílio foi tão profundo que o confunde a mente, e como por ironia da vida, encontrou um grande dilema entre o desejo de ser livre e o peso da submissão.
Esse dilema atormenta Brasílio diariamente, onde muitas vezes o peso da submissão esconde o desejo de ser livre para pensar por si mesmo, crescer e aceitar sua própria beleza original do mundo todo.
Logo, Brasílio encanta-se demais com oque vêm de fora ou não atribui o devido valor a si próprio. Seu verde antes tomado e derrubado, hoje é alugado quando não vendido as intenções de outros nobres homens.
Brasílio... tão cheio de vida, cheio de cores e sons, tão rico em essência porém com uma inocência que quebra as barreiras do bom senso e do auto-valor, pondo em risco sua própria existência que se perde diante de tanta falta de atitude.
Limitando sua própria mentalidade, criando rédeas para si mesmo e evitando questionar como fizera em tempos passados, Brasílio faz de sua própria vida a reprise de uma história antiga, contada e deturpada pelos livros.
A história de seu descobrimento.
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